Cada vez mais mulheres instruídas estão escolhendo parceiros com menor nível de educação ou status profissional do que elas. Esse fenômeno, chamado hipogamia, reflete uma mudança na dinâmica romântica e nas normas sociais.
Uma reversão das tendências tradicionais
Historicamente, a hipergamia – uma mulher se casando com um homem de status social ou educacional mais elevado – era a norma. No entanto, essa tendência está se revertendo gradualmente. Nos Estados Unidos, de acordo com a socióloga Christine Schwartz, da Universidade de Wisconsin, a proporção de casais em que a mulher tem nível de escolaridade mais alto que o do parceiro aumentou de 39% em 1980 para 62% em 2020.
Na França, um estudo do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (INED) indica que, desde as coortes nascidas no final da década de 1950, as mulheres são frequentemente mais qualificadas do que seus cônjuges, marcando assim uma reversão da hipergamia feminina.
Fatores por trás do aumento da hipogamia
Vários elementos explicam esse desenvolvimento. A massificação do ensino superior levou a um aumento significativo no número de mulheres formadas. Em 2024, na Bélgica, 56,9% das mulheres entre 25 e 34 anos tinham diploma de ensino superior, em comparação com 44,4% dos homens.
Essa disparidade cria uma situação em que as mulheres instruídas superam em número seus colegas homens, levando-as a considerar parceiros menos instruídos. Além disso, a mudança de papéis de gênero e o desejo por relacionamentos baseados em igualdade e compatibilidade emocional estão reforçando essa tendência.
Desafios persistentes apesar da mudança
Apesar desse desenvolvimento, ainda há desafios. As normas sociais tradicionais ainda podem influenciar a dinâmica de casais hipogâmicos. Por exemplo, um estudo da socióloga Nadia Steiber destaca que "homens menos instruídos tendem a ter visões mais tradicionais de gênero, o que pode criar tensões no casal".
Além disso, as disparidades de renda nem sempre favorecem mulheres com maior nível de escolaridade. De acordo com Christine Schwartz, "essas mulheres geralmente ganham tanto ou mais que seus maridos, mas isso não é a norma".
A hipogamia reflete, portanto, uma redefinição dos critérios para a escolha romântica. Mulheres bem-sucedidas priorizam cada vez mais a compatibilidade emocional, os valores compartilhados e o apoio mútuo, acima do status social ou do nível educacional. Essa mudança reflete uma busca por autenticidade e igualdade nos relacionamentos, mesmo que as barreiras culturais e sociais persistam.